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Foto do escritorMarcelo Nogueira

Ambliopia, também conhecida como olho preguiçoso. Saiba mais sobre as causas e tipos de tratamento

Atualizado: 25 de ago. de 2022



Ambliopia funcional ou olho preguiçoso, como é popularmente conhecida, é uma disfunção binocular que se caracteriza pela perda de visão, num olho ou nos dois, que não é corrigível por óculos ou lentes de contato e não é provocada por qualquer doença. O cérebro por algum motivo, não reconhece completamente as imagens vistas pelo olho amblíope. Isso quase sempre afeta apenas um dos olhos, mas pode se manifestar com redução da visão em ambos os olhos.


O que causa Ambliopia?

A Ambliopia resulta de problemas de desenvolvimento no cérebro. Quando as partes do cérebro envolvidas no processamento visual não funcionam corretamente, surgem problemas nas seguintes funções visuais:

  • Perceção de movimento;

  • Percepção de profundidade (capacidade de ver o mundo a 3 dimensões);

  • Nitidez da visão.

A Ambliopia é uma desordem que afeta cerca de 3% da população. Qualquer coisa que interfira com a visão e com um dos olhos durante o período crítico de desenvolvimento visual e cerebral (do nascimento aos 6 anos de idade) pode dar origem à Ambliopia. Além disso, a interferência ou a falta de utilização simultânea de ambos os olhos em conjunto (visão binocular) pode causar uma resposta denominada "supressão" ou "inibição" no cérebro. Em alguns casos, este padrão de supressão pode resultar numa diminuição da visão do olho afetado que não pode ser corrigida com óculos, lentes ou cirurgia refrativa. Mais uma vez, é importante compreender que a perda de visão ocorre no cérebro. Notavelmente, pesquisas mais recentes têm demonstrado que o cérebro pode mudar, desenvolver-se e recuperar em qualquer idade, através de terapia visual.


Exemplos de condições visuais que podem causar a supressão e "olho preguiçoso":

  • Um olho vê claramente e o outro olho vê desfocado (o cérebro vai inibir, bloquear, ignorar, suprimir, o olho que vê desfocado);

  • Os dois olhos não apontam para o mesmo lugar (o cérebro irá suprimir um olho, a fim de evitar a confusão e/ou visão dupla (diplopia);

  • Os dois olhos têm uma diferença significativa de prescrição (por exemplo, um é bastante mais míope ou hipermetrope do que o outro). Neste caso, o cérebro percebe duas imagens bem diferentes e opta por eliminar uma (suprimir) para evitar a rivalidade entre os dois olhos ou visão dupla (diplopia).

As causas mais comuns de Ambliopia são os estrabismos Constantes (desvio constante de um olho), anisometropia (grande diferença de prescrição entre os dois olhos) e bloqueio de um olho devido a catarata, trauma, queda da pálpebra superior (ptose), etc. Outras causas menos comuns incluem desordens congénitas e deficiência de vitamina A.

Como se faz o diagnóstico da Ambliopia?

Muitas vezes a Ambliopia é detetada em rastreios escolares ou realizados no pediatra, mas é fundamental a avaliação por um optometrista ou oftalmologista.

É muito importante ter a noção de que a Ambliopia geralmente ocorre só num olho, não estando muitos pais e crianças cientes da desordem, sendo frequentemente apenas detectada numa idade mais avançada, quando o paciente faz uma consulta visual, o que vai dificultar (mas não impedir) o seu tratamento. Por isso, é altamente recomendável que as crianças façam uma consulta de optometria ou oftalmologia o mais cedo possível.

Qual o tratamento da Ambliopia?

O tratamento convencional da Ambliopia baseia-se:

  • Na correção refrativa (óculos).

  • Na terapia de oclusão (modelo baseado na estimulação "forçada" do córtex visual do olho amblíope, num modo de tratamento monocular que implica tapar o olho bom).

A oclusão pode ser total ou parcial. A oclusão parcial pode ser feita ofuscando uma das lentes dos óculos ou com medicação (Atropina).

No entanto existem vários problemas com a terapia de oclusão:

  • A Acuidade Visual melhora, mas frequentemente regride após o fim do tratamento.

  • O paciente tipicamente mantém a supressão binocular.

  • O paciente frequentemente continua sem estereopsia (visão em profundidade).

  • É prejudicial para a homeostase do paciente.

  • É muitas vezes emocionalmente traumático para a criança pois pode ser motivo para bullying e como torna mais difícil o funcionamento na sala de aula e a realização de outras atividades diárias, gerando frustração, raiva e infelicidade geral.

  • Cria problemas visuoespaciais na prática desportiva, problemas na direção de veículos ou na operação de maquinas.

  • Perturba o desenvolvimento da visão binocular e da integração bilateral.

Todos estes problemas levam frequentemente ao abandono do tratamento e consequentemente ao seu fracasso.



A oclusão, que tem sido o tratamento padrão para a Ambliopia há mais de 200 anos, não terá em pleno século XXI uma forma mais eficiente de ser tratada?

A resposta é sim!

Existe ampla evidência científica que o tratamento da Ambliopia com Terapia visual, junto com curtos períodos de oclusão, é mais eficaz do que proceder apenas à oclusão.

E a razão fundamental baseia-se no fato da Ambliopia ser um problema intrinsecamente binocular e não monocular, como o tratamento por oclusão pressupõe.

Novas pesquisas mostram que as células binoculares em amblíopes estão intactas, mas os mecanismos de supressão são em grande parte responsáveis pela perda da função visual. A visão monocular dos amblíopes pode ser melhorada desbloqueando esses mecanismos de supressão que tornam o córtex visual funcionalmente monocular.

O programa de Terapia visual para tratar a Ambliopia tem 2 componentes:

1) Estimulação monocular do olho amblíope:

  • Melhorar a função acomodativa;

  • Melhorar os movimentos oculares;

  • Realizar atividades que exigem descriminação visual fina sob condições que desafiam o sistema visual;

2) Estimulação da visão binocular:

  • Tratamento anti-supressão;

  • Integração binocular.




Existe uma idade limite para tratar a Ambliopia?

O "olho preguiçoso" é tratável em qualquer idade. A neurociência tem provado que o cérebro humano pode mudar em qualquer idade (neuroplasticidade). Estudos científicos da mais elevada qualidade demonstraram que é possível tratar com sucesso a Ambliopia até aos 17 anos. Após os 17 anos, continua a ser possível tratar a Ambliopia com recurso da Terapia visual.

Um adulto motivado que trabalhe com empenho pode obter melhorias significativas na função visual.

Todos os pacientes amblíopes merecem uma tentativa de tratamento!


Marcelo Nogueira é optometrista em Optocentro saúde e reabilitação visual em Itapetininga-SP


Especialista em ortóptica e terapia visual, possui anos de experiência e sucesso em terapia visual


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